Quando falamos de organizações de excelência, o nome de Tom Peters e o seu best seller de 1982 “In search of excellence” parece-nos incontornável. Inspirado pelo sucesso económico das empresas japonesas, Peters enfatizou as culturas fortes e o lado humano das organizações como o “Santo Graal” da excelência. Vinte anos mais tarde, as confissões de Peters de que os dados tinham sido forjados *, lançou um véu de suspeição sobre a consistência das suas lições. Afinal, eleger um factor e um one best way apenas seria possível manipulando dados e servindo um propósito: servir a sua consultora, e criar uma ementa que vendeu três milhões.
Assim, parece que a excelência não é um mapa que nos ofereça caminhos seguros para a obter. A complexidade e os constantes jogos de tensões, a não linearidade (por ex., o dobro do investimento não gera necessariamente o dobro das receitas) e a imprevisibilidade, estão muito mais garantidos “à partida” do que um mapa que nos aponte direções.
O racionalismo cartesiano com que alguns gestores tendem a construir elegantes estratégias de desenvolvimento dos seus talentos, e que ilustram reuniões e powerpoints, lida mal com a complexidade e com o caos. É por isso que assistimos a decisões sustentadas num “racional” que está longe de ser partilhado e consensual. O mundo desmaterializado de hoje parece encontrar nos paradigmas da complexidade e do caos uma melhor representação do que a visão racionalista do mundo organizacional.
No seu livro “A Gestão do Caos”, Stacey propõe um novo paradigma: é “longe-do-equilíbrio”** que a inovação acontece e emergem fontes de vantagem competitiva. O novo paradigma postula a aceitação de paradoxos, isto é, a possibilidade de coexistência de contrários: é útil ser inútil, como propôs Ricardo Vargas; as “zonas de conforto” podem ser desconfortáveis; “longe-do-equilíbrio” significa simultaneamente equilíbrio e desequilíbrio.
A proposta NBCC Academy é que pessoas e organizações, aprendam nessas zonas “longe-do-equilíbrio” de que fala Ralph Stacey. Tomemos como exemplo os construtores de jogos. Estes sabem bem explorar a relação entre competência, exigência da ação e o seu grau de dificuldade: abaixo da competência é maçador, ou entediante, acima, é ansiogénico e pode conduzir a um nível de frustração tão elevado, que conduz à desistência. Os desempenhos aumentam em zonas fora do equilíbrio e do controlo, e longe das zonas de elevada ansiedade e desistência.
Como explorar este potencial de aprendizagem nos programas de formação, capacitação e desenvolvimento das nossas pessoas e equipas?
Na metáfora da vida como um jogo infinito (Sinek), este modelo de relação entre performance e desafio é um bom guia para promover contextos facilitadores da maximização do desempenho das pessoas e equipas em contexto de formação.
O modelo recomenda então focar duas dimensões:
– Uma avaliação criteriosa e uma decisão consciente da homogeneidade/ heterogeneidade dos níveis de conhecimento dos participantes nas ações; que as expectativas e métodos pedagógicos estejam alinhados com essas decisões;
– A identificação de promotores de programas que exerçam uma micro-customização já em ambiente de aprendizagem, dentro daquilo que Stacey chama parâmetros de controlo: demasiada pressão exterior pode incrementar graus de stress para níveis que conduzem à exaustão; ausência de estímulos desafiadores promovem imobilidade e ineficácia.
É, portanto, nas zonas “longe-do equilíbrio” que emerge inovação, aprendemos, evoluímos e crescemos.
João Franco
Executive DirectorNBCC ACADEMY
* Executive Digest (2001), cit por Miguel Pina e Cunha: Manual de Comportamento Organizacional e Gestão.
** Stacey, Ralph: A Gestão do Caos
“Longe-do-equilíbrio”: Um paradigma de Formação
Quando falamos de organizações de excelência, o nome de Tom Peters e o seu best seller de 1982 “In search of excellence” parece-nos incontornável. Inspirado pelo sucesso económico das empresas japonesas, Peters enfatizou as culturas fortes e o lado humano das organizações como o “Santo Graal” da excelência. Vinte anos mais tarde, as confissões de Peters de que os dados tinham sido forjados *, lançou um véu de suspeição sobre a consistência das suas lições. Afinal, eleger um factor e um one best way apenas seria possível manipulando dados e servindo um propósito: servir a sua consultora, e criar uma ementa que vendeu três milhões.
Assim, parece que a excelência não é um mapa que nos ofereça caminhos seguros para a obter. A complexidade e os constantes jogos de tensões, a não linearidade (por ex., o dobro do investimento não gera necessariamente o dobro das receitas) e a imprevisibilidade, estão muito mais garantidos “à partida” do que um mapa que nos aponte direções.
O racionalismo cartesiano com que alguns gestores tendem a construir elegantes estratégias de desenvolvimento dos seus talentos, e que ilustram reuniões e powerpoints, lida mal com a complexidade e com o caos. É por isso que assistimos a decisões sustentadas num “racional” que está longe de ser partilhado e consensual. O mundo desmaterializado de hoje parece encontrar nos paradigmas da complexidade e do caos uma melhor representação do que a visão racionalista do mundo organizacional.
No seu livro “A Gestão do Caos”, Stacey propõe um novo paradigma: é “longe-do-equilíbrio”** que a inovação acontece e emergem fontes de vantagem competitiva. O novo paradigma postula a aceitação de paradoxos, isto é, a possibilidade de coexistência de contrários: é útil ser inútil, como propôs Ricardo Vargas; as “zonas de conforto” podem ser desconfortáveis; “longe-do-equilíbrio” significa simultaneamente equilíbrio e desequilíbrio.
A proposta NBCC Academy é que pessoas e organizações, aprendam nessas zonas “longe-do-equilíbrio” de que fala Ralph Stacey. Tomemos como exemplo os construtores de jogos. Estes sabem bem explorar a relação entre competência, exigência da ação e o seu grau de dificuldade: abaixo da competência é maçador, ou entediante, acima, é ansiogénico e pode conduzir a um nível de frustração tão elevado, que conduz à desistência. Os desempenhos aumentam em zonas fora do equilíbrio e do controlo, e longe das zonas de elevada ansiedade e desistência.
Como explorar este potencial de aprendizagem nos programas de formação, capacitação e desenvolvimento das nossas pessoas e equipas?
Na metáfora da vida como um jogo infinito (Sinek), este modelo de relação entre performance e desafio é um bom guia para promover contextos facilitadores da maximização do desempenho das pessoas e equipas em contexto de formação. O modelo recomenda então focar duas dimensões:Blog: os mais recentes
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